29.1.08

aprender a viver



Faz hoje uma semana que choro lágrimas, com todas as cores do arco-íris, revelando-me esta estranha sensação de estar vivo, sentindo o pulsar de cada momento, esta difícil e dura preparação, mas mágica tarefa, de existir. Sou amada e querida num confortável berço, amamentado com a energia da minha mãe sempre que preciso, com o rico néctar do amor, sentindo uma urgência natural de aprender a crescer, em harmonia. Espero poder transformar e multiplicar todos os meus sonhos com esboços de felicidade, alegria e sorrisos, neste belo lar, doce lar. Semeando sentimentos e ideias em lugares ou coisas que ainda falta explorar.

Entrego-me assim de braços e olhos abertos a terra que me recebe e apoia a minha vida.

Para a Íris com muito amor


tinta permanente e jacto de tinta
s/ papel mata-borrão 18x18cm

23.1.08

/// A luz da íris já brilha




íris
3,865kg
muito amor

17.1.08

as novas flores já começam a espreitar da terra



tinta permanente e jacto de tinta
s/ papel mata-borrão 18x18cm

11.1.08

/// valter hugo mãe mergulha com "A Sereia de Curitiba"

Aqui está o texto escrito por valter hugo mãe, sobre o livro A Sereia de Curitiba, publicado em Dezembro 2007 - Janeiro 2008 nas páginas de literatura 48 e 49, da Revista Bimensal de Tendências e Guia Cultural "DIF" Número 54. (pode descarregar esta edição em PDF aqui)


"Uma Sereia na Literatura em Português

Este livro de Rhys Hughes, o segundo do autor em Portugal, foi escrito originalmente em inglês mas com o fito de ser comercializado apenas em português. A tradução de Safaa Dib reveste-se, assim, de uma responsabilidade fulcral. Concebendo o autor este conjunto de pequenos contos para o público do português, procura-se com esta versão, e por natureza, optimizar esse elemento chave de todo o projecto: apagar o inglês e surpreendentemente partir como que do zero com a nossa tão inusitada língua.

Depois do excelente Uma Nova História Universal da Infâmia, também com a chancela da Livros de Areia, o volume A Sereia de Curitiba traz Hughes numa recolha do que nos parecem ideias para algo maior, aqui coligidas sob a égide do português para tantas vezes se ligar ao imaginário da lusofonia; desde logo, por apelar a lugares, como o evocado no título, ou como Lisboa e Madeira, ou por aludir a figuras muito características, como Hermínia Silva ou Fernando Pessoa.

Dizemos que estes textos coligem ideias para algo maior uma vez que, existindo embora uma circularidade de temas ou referências que, aqui e acolá, nos fornecem a sensação de uma mesma
tonalidade de narrativa que perpassa por todos os trechos, o que mais se manifesta é a habilidade de construir um labirinto, numa permissividade fantasista sem limites, que nos convence de que muitas das coisas estão por completar, pela necessidade de se realizarem plenamente mas, sobretudo, pela vontade que temos de saber mais, ou de, enfim, nos ser oferecido mais sobre determinadas passagens que nos agarram entusiasticamente.
Estamos perante um jogo ao jeito de Jorge Luis Borges e, até certo ponto, por causa de Jorge Luis Borges. Na verdade, o argentino deixou de parte a sereia quando escreveu o Livro dos Seres Imaginários, por opção ou esquecimento, e o que Hughes faz é voltar a reclamar para essa figura, metade mulher, metade peixe, o lugar eterno da perigosa encantadora dos homens.

O texto sobre o texto, como já há muito se não acreditaria voltar a fazer, ganha de novo sentido aqui. Isso acontece com sucesso por se revelar despido, ou seja, sem a pose filosofal de outros tempos, antes servindo de ironia taxativa, como se expondo e ironizando, um pouco por todo o lado, as intrincadas opções técnicas da escrita. Exemplar no que respeita à desconstrução do texto, também no sentido de apelar a Borges e ultrapassar toda a solenidade de outrora na criação literária, é o conto «Falsa alvorada de Papagaios», a encerrar o livro (antes ainda
de uma estranha secção de notas e de um epílogo esquisito):
«No centro desta história, encontrámos estas palavras: / No centro desta história, encontrámos estas palavras: / No centro desta história, encontrámos estas palavras… / Ainda bem que esse irritante truque literário não aconteceu!» (pag. 137).

Para uma ainda maior abrangência, Rhys Hughes pode deitar mão de um expediente novecentista e fazê-lo funcionar como já não parecia possível, criando um diálogo directo com o leitor que, levado ao extremo no conto «Cultos da Carga na Ilha do Beijo Picante», consegue criar momentos de excelência quando se ficciona a entrada do leitor no livro e este desata a falar, nada agradado com ser chamado ao paraíso em que vive o narrador:
«E chega deste disparate de “querido leitor”. Não há nada de querido sobre mim. Tenciono ser reles a partir de agora, o mais reles possível que conseguir ser, e isso é uma outra forma como tenciono arruinar o vosso paraíso vistoso.».

É por um fragmentário e voraz caminho que vamos sabendo sobre personagens que se desdobram em fantásticas situações, passando sempre por um certo absurdo que, as mais das vezes, conduz a um humor aberto. Para uma contemporaneidade ainda capaz de revisitar com novidade os grandes mitos, Rhys Hughes prova que a literatura será sempre intemporal, quando menos se espera obrigando-nos a acreditar em tudo o que já havíamos esquecido, para esplendor máximo de Borges, mas também de outros, sem dúvida, como Ítalo Calvino, um dos mais geniais escritores do século vinte.

Uma palavra para a Livros de Areia que, juntamente com a Tinta da China, me parece dos projectos editoriais melhor tabelados dos surgidos nos últimos anos. Com um catálogo irrepreensível, as suas edições são levadas a cabo com uma qualidade extrema, sendo marcada a aposta num design gráfico pouco comum entre nós, que passa pela utilização de caracteres particularmente grandes em títulos e pela proliferação de ilustrações. Nesta obra de Rhys Hughes podemos apreciar o trabalho do ilustrador Paulo Barros (vejam-no em barrospaulo.blogspot.com), um artista obrigatório; na página 140 encontrarão a imagem desta belíssima bicicleta-centauro que mostra melhor o que vos digo.

No blogue da editora (livrosdeareia.blogspot. com) encontrarão um pequeno manual de leitura de A Sereia de Curitiba e, se este é coisa de não perder, o manual também não está mal, e servirá de uma bela porta para o universo descomplicado, mas sério, da editora, que espero possam todos descobrir."




Aqui está outro dos desenhos que fiz e pequeno excerto tirado de um dos contos deste húmido e quente livro

“Como vêem, a Pedra quebra a Tesoura, mas também esmaga a Nuvem de Chuva, a Tesoura corta o Papel mas também o fusível do pau de Dinamite, a Dinamite rebenta com a Pedra em pedaços, mas também dispersa a Nuvem de Chuva com ondas de choque, a Nuvem de Chuva enferruja a Tesoura, mas também torna o Papel molhado, e o Papel ainda continua a ocultar a Pedra, mas agora também se torna uma carta de reclamação às autoridades sobre o dono da Dinamite, que é subsequentemente preso. “

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+)
obrigado à editora Livros de Areia por querer casar os meus desenho com este livro:)
obrigado ao "galau" do Rhys Hughes
abraço e sorriso ;) ao valter hugo mãe por participar com mais este ingrediente
e a todas as belas sereias que nos fazem.

8.1.08

1.1.08

love melts



residuos
oleo s/ papel
4x3cm